O livro começa como um relatório de polícia, descrevendo a vida de um gang numa zona a que se chama simplesmente Bairro e que nos pode fazer evocar um qualquer bairro periférico de uma grande cidade. A legião que é referida no título reporta-se a uma citação do Evangelho de São Lucas, mais precisamente ao seguinte excerto: "(...) Quando desceu para terra veio-lhes ao encontro um homem da cidade, possesso de vários demónios, que desde há muito não se vestia nem vivia em casa mas nos túmulos. Ao ver Jesus prostrou-se diante dele, gritando em alta voz: 'Que tens que ver comigo Jesus, filho de Deus altíssimo? Peço-te que não me atormentes!" "(...) Jesus perguntou-lhe: 'Qual é o teu nome?' 'O meu nome é Legião'. respondeu". Porque muitos demónios tinham entrado nele e suplicavam-lhe que os não mandasse para o abismo. Com O Meu Nome é Legião percorremos, como se fosse a nossa vida, a vida de pessoas que vivem na pior parte do pior sítio do mundo . pessoas que são muitos, sendo o mesmo, e sendo esse «mesmo» uma parte oculta, desesperada e silenciosa de nós, que se esforça por acreditar que há uma salvação. Cruzam-se histórias, tendo quase sempre como pano de fundo o bairro; os conflitos homem/mulher, ricos/probres, brancos/pretos; as histórias não acabam, e é normal - o autor mostra-nos que aquilo que existe de mais parecido com a salvação é esquecer tudo o que aconteceu e pensar:«Não tenho medo de vocês, não tenho medo de nada».
António Lobo Antunes nasceu em Lisboa em 1942 e licenciou-se em Medicina pela Universidade de Lisboa em 1969. Combateu em Angola de 1971 a 1973.
Depois da publicação de Memória de Elefante e Os Cus de Judas, ambos em 1979, António Lobo Antunes tornou-se um dos escritores portugueses mais lidos, traduzidos e premiados em todo o mundo. Em 2005 foi distinguido com um dos mais importantes prémios literários do mundo: o Prémio Jerusalém. Em 2007 recebeu o Prémio Camões, o mais importante prémio literário de língua portuguesa.